quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Professor Emérito do Institute of Education Keith Swanwick



Keith Swanwick (foto ao lado) é Professor Emérito do Institute of Education, da Universidade de Londres. Foi o primeiro professor titular de Educação Musical na Europa e Diretor de Pesquisa. Formou-se com honras na Royal Academy of Music, onde estudou trombone, piano, órgão, composição e regência. Passou então a dedicar-se à docência e a lecionar em escolas de ensino médio, profissionalizantes e universidades. Tem vasta experiência como regente coral e de orquestra e já atuou como músico de orquestra e organista em igrejas.

Sua tese de doutorado foi sobre a Música e a Educação das Emoções. De 1984 a 1998, foi editor do British Journal of Music Education, com John Paynter. Em 1987 tornou-se o primeiro presidente da British National Association for Education in the Arts e de 1991 a 1995 foi dirigente do Music Education Council (Inglaterra). No ano de 1998, foi professor visitante na Universidade de Washington e de 1999 a 2001 foi professor conselheiro no Instituto de Educação em Hong Kong. Seus outros compromissos internacionais incluem encontros na Nova Zelândia, Austrália, Finlândia, Suécia, Noruega, Holanda, Espanha, Chipre, Canadá, Singapura, Islândia, Estados Unidos, Brasil, Portugal e Jamaica.

Durante o seminário serão lançados três livros sobre educação musical pela Editora Moderna, entre eles Ensinando Música Musicalmente de Keith Swanwick (com tradução de Alda Oliveira e Cristina Tourinho).

O desenvolvimento musical segundo Swanwick

Todos nós, educadores musicais, nos deparamos no dia-a-dia com o pouco material teórico a respeito de como se dá o desenvolvimento musical no ser humano, já que foram poucos os que elaboraram uma teoria a esse respeito. Keith Swanwick é um educador musical que se debruçou sobre esse tema, buscando solucionar questões curriculares nos cursos oficiais de música ingleses. Seu trabalho não é pioneiro, mas vem acrescentar às teorias de desenvolvimento 'clássicas', idéias originais, elaboradas a partir de constatações fundamentadas em sua prática docente e em sua pesquisa de campo. Toda a 'Teoria Espiral', criada por ele, está baseada nas idéias dePiaget, ou seja, de que o conhecimento se dá por etapas sucessivas e é construído pelo indivíduo. Sendo assim, tentaremos traduzir algumas dessas idéias, trazidas a nós através de seu livro Musical Knowledge: Intuition, Analysis and Music Education, de 1994.

A pesquisa de Swanwick e a elaboração de sua teoria

Tendo como premissa a convicção de que o aprendizado musical, assim como qualquer outro ramo do conhecimento, deve obedecer etapas sucessivas, consoantes com o nível de amadurecimento psicológico do indivíduo, Swanwick fez um mapeamento do progresso desse conhecimento, estudando um grupo de estudantes na faixa entre os 3 e os 14 anos. Essas crianças, todas alunas de três escolas em Londres, eram oriundas de diversos grupos étnicos e culturais (crianças de origens asiáticas, antilhanas, africanas e sul e norte européias). Durante quatro anos, Swanwick fez gravações de composições feitas por elas, em um total de 745 composições de um universo de 48 estudantes. É importante frisar que esse estudo foi feito dentro da ótica das 'oficinas de música', priorizando uma visão chamada por seus defensores de linha 'criativa' do ensino musical. Dentro dessa ótica, defendida por muitos educadores contemporâneos, tais como John Paynter e Murray Schafer, o professor deve buscar desenvolver a criatividade e a improvisação, utilizando para isso todo e qualquer material sonoro disponível.

A partir de seu estudo, Swanwick elaborou sua 'Teoria Espiral de Desenvolvimento Musical'. Para representá-la, ele elaborou um gráfico em forma de espiral. Através dele, Swanwick mostrou os níveis de desenvolvimento, relacionados com a idade das crianças 'compositoras' estudadas. O primeiro desses territórios, o material, ele dividiu em dois níveis: o sensorial e o manipulativo e diz respeito às crianças de 0 a 4 anos. O segundo desses territórios é o da expressão, que compreende crianças na faixa dos 5 aos 9 anos mais ou menos. O terceiro, o da forma, ele dividiu em: especulativo e idiomático, e diz respeito às crianças de 10 a 15 anos. O quarto e último desses territórios, o do valor, ele dividiu em: simbólico e sistemático, e diz respeito às crianças de 15 anos ou mais.

A partir dessa teoria, Swanwick propôs um processo de aprendizagem baseado em um modelo que ele batizou de 'C.L.A.S.P.', que em português foi traduzido para modelo 'T.E.C.L.A.'. O modelo consiste em trabalhar os conteúdos de maneira vinculada, para justamente favorecer o desenvolvimento cognitivo de forma integral e não fragmentada. Sua intenção é que as fases não estejam dissociadas, mas sim, mantenham um vai-e-vem contínuo entre elas.

Dessa forma, para uma boa educação musical o professor deve, no entender de Swanwick, estar atento para não priorizar e nem desprezar qualquer dos elementos abaixo, resumidos na sigla 'T.E.C.L.A.':

T- Técnica (manipulação do instrumento, notação simbólica, audição)
E- Execução(tocar, cantar)
C- Composição (criação, improvisação)
L- Literatura (história da música)
A- Apreciação (reconhecimento de estilos/ forma/ tonalidade/ graus)


Apesar de trabalhar em uma linha conhecida como 'oficinas de música', que prioriza a livre experimentação de materiais sonoros, Swanwick compreende a importância do universo sociocultural e afetivo do educando, deixando claro que a criança deve ser estimulada com músicas que estejam no seu dia-a-dia e dentro dos padrões musicais de sua cultura. Isso não significa dizer que não devemos ampliar esse repertório, mostrando outros universos sonoros.